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Uma importante iniciativa de CartaCapital, em parceria com o Instituto de Estudos da Religião (ISER), toma a forma do curso Brasis Evangélicos – Os evangélicos na cena pública e no mosaico religioso brasileiro. Aberto a qualquer pessoa interessada no entendimento deste fenômeno religioso do século 21 no País, além de jornalistas, acadêmicos e líderes religiosos, o curso terá seis aulas, distribuídas em duas semanas, com início no próximo 15 de outubro e encerramento no dia 24.
A iniciativa é bem-vinda como um excelente suporte para compreensão do contexto das eleições municipais de 2024, já que expressões da fé evangélica têm sido acionadas na campanha de várias candidaturas, o que já ocorre há alguns pleitos. Uma visão global da relação entre religião e política será objeto do curso.
Por sinal, esta relação está presente no Brasil desde 1500, quando a Igreja Católica aportou nestas terras com os colonizadores portugueses. De fato, isto deixou de ser unicamente objeto de estudos acadêmicos e ganhou as páginas de jornais e revistas e discussões populares em mídias sociais e outros espaços por conta do recente “fenômeno evangélico”.
Fala-se muito do que alguns chamam de “ameaça” evangélica, outros, ao contrário, de “bênção de Deus”. As avaliações díspares respondem à intensificação da presença de cristãos na política, estimulada, especialmente, por alianças de integrantes do universo ultraconservador no País. Este processo tomou a forma da ocupação de cargos no Poder Executivo, rearticulação de alianças o Poder Legislativo, e a emersão de personagens do Poder Judiciário identificados com a fé cristã que interferem em políticas e realizam ações públicas (vide a controversa Operação Lava Jato).
Esta ênfase no poder alcançado por ultraconservadores do segmento evangélico, é, de fato, necessária nesta discussão. Há uma trajetória de quase 35 anos da existência de uma “bancada evangélica” no Congresso Nacional. Ela ganhou força durante a presidência de Eduardo Cunha (MDB/RJ) na Câmara dos Deputados, por conta da ênfase em pautas da moralidade sexual e defesa da “família tradicional”. E foi esta força da religião no Congresso, que uniu forças com uma direita ressentida, nada religiosa, para tirar Dilma Rousseff da Presidência, no, já consagrado historicamente, golpe contra a democracia de 2016. Jair Bolsonaro surfou nesta onda e conquistou a Presidência da República com uma forte aliança com estes grupos religiosos, tendo negociado cargos e benefícios, que lhe rendem, até o presente, suporte incondicional de certas lideranças.
Porém, este quadro é complexo e muito dinâmico e, apesar dos anos de análises, com diferentes abordagens, ainda há muita incompreensão e equívocos. Em parte, estes são provocados pelo desconhecimento da história e das dinâmicas que envolvem religiões no país, e o lugar do Cristianismo evangélico nelas. Por outro lado, equívocos de compreensão são movidos por imaginários e preconceitos.
Entre os equívocos e incompreensões circulantes, por exemplo, estão a confusão entre as noções de Frente Parlamentar e Bancada; desencontros sobre a composição de uma “Bancada da Bíblia”; listas duvidosas de integrantes da chamada Bancada Evangélica; a imagem incorreta de que neopentecostais buscam tomar o poder; a restrição às intervenções públicas de lideranças evangélicas com desconsideração às movimentações de lideranças católicas nos três poderes; ignorância em relação às diferentes tendências ideológicas que movem estes grupos religiosos em sua pluralidade, restringindo avaliações e agrupando personagens e fiéis sob o rótulo de “alienados” e “conservadores”.
É possível ainda verificar a circulação de certo senso comum sobre o tema, com a recorrente identificação de evangélicos como sinônimo de neopentecostais, termo, hoje, já defasado, ou de cristãos como sinônimo de evangélicos. Ainda elocubrações sobre teologias, antes ignoradas, e que agora ganham ares de teorias da conspiração e modismo discursivo.
Toda esta desinformação circulante acaba ignorando o significado da intensa presença de grupos religiosos que atuam como ativistas políticos nos mais diversos movimentos e nas mídias sociais, em perspectiva plural, nunca homogênea. É um contexto em que “religião” é, certamente, um tema de fundo, alimentador de campanhas e debates contundentes não só em processos eleitorais, mas em diferentes pautas.
Desinformação sobre religião e política em circulação também tem relação com o tema do Estado laico. Em muitos espaços ele é apresentado como ameaçado por conta desta presença mais intensa de grupos religiosos no espaço público. Será mesmo? Por que discutir “Estado laico” apenas quando evangélicos ganham protagonismo na política? Por que identificar a identidade evangélica de certos políticos extremistas de direita ou de integrantes do Poder Judiciário, e deixar de fazê-lo em relação aos que são católicos e espíritas? O Estado laico sempre foi frágil em nossas terras a começar com o poder da hegemonia católica, passando pela intolerância em relação às religiões de matriz africana (resultante do racismo estrutural), chegando à força do ultraconservadorismo de uma parcela ampla de evangélicos no tempo presente.
O curso Brasis Evangélicos – Os evangélicos na cena pública e no mosaico religioso brasileiro é muito bem-vindo neste contexto eleitoral, com seus objetivos de desmistificar o segmento evangélico no Brasil e de oferecer uma visão profunda e crítica da presença na arena pública e do impacto deste grupo religioso nas mais variadas esferas da vida nacional. Vale a pena saber mais sobre ele e se juntar à turma que, certamente, discutirá elementos de grande relevância para a cena pública do Brasil 2024.
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