(Neemias: 1:1 a 2:8)
Líderes que inspiram. Esse tem sido um clamor, um desejo profundo, que une os cidadãos de vários lugares diferentes do mundo. Líderes que desejem servir, em vez de serem servidos, líderes que abram mão de seu conforto, a fim de dar mais dignidade a outros, líderes que sejam exemplo, que orgulhem, que sejam ponderados, compassivos, empáticos, verdadeiros, honestos, coerentes, sinceros. São tantas as qualidades desejáveis nos líderes, mas a verdade é que elas são cada vez mais raras.
Mas quando olhamos com profundidade para o Livro de Neemias, encontramos um líder exemplar, que possuía todas essas características e muitas outras, desde que conheçamos as circunstâncias que o rodeavam e a realidade do povo de Deus naquela época. Por vezes, também é importante ter um texto de apoio e, para a história de Neemias, há um livro muito especial: Gloriosas Ruínas, do Pr. Sérgio Queiroz, que nos ajuda a perceber alguns dos princípios citados neste pequeno texto.
Primeiramente, Neemias ocupava uma função de destaque e de extrema confiança no maior Império da época: ele era o copeiro do rei. Mas não podemos confundir a função dos copeiros de hoje, com os daquela época. Hoje, um copeiro é quase um chefe de cozinha, o que o modo de servir os alimentos, que faz a decoração a mesa, etc., porém na época dos grandes reis da Antiguidade, o copeiro era alguém em quem o rei confiava totalmente, a vida do rei dependia da fidelidade do copeiro. Isso porque uma forma muito comum de assassinato nos tempos antigos era o envenenamento e o copeiro era responsável pela alimentação real, era quem provava e aprovava a comida e a bebida do rei. Portanto, se alguém quisesse envenenar um rei, teria que contar com a “ajuda” do copeiro.
O copeiro tinha acesso à sala do trono, à presença do rei e tinha muita influência. Logo, a vida de Neemias era, aos olhos humanos, muito boa, tinha acesso a luxo, riqueza, poder e influência, porém a situação de Jerusalém era oposta, estava desolada e com suas muralhas destruídas, o que, no contexto da época, trazia muitos problemas, porque as muralhas tinham importantes funções, como a proteção dos cidadãos e hóspedes de ataques inimigos e de animais ferozes; o controle do comércio, regulando o acesso de produtos e o pagamento de tributos, trazendo riqueza e prosperidade à cidade; uma demonstração de força e poder perante os povos rivais; etc. Muralhas eram muito caras e difíceis de serem construídas e, se derrubadas, eram sinal de fraqueza, humilhação, insegurança e vulnerabilidade.
Mesmo nesse contexto individual e geral, Neemias tinha características exemplares de liderança, que podemos compreender melhor pela aplicação de alguns princípios. O primeiro deles o princípio da informação: um bom líder não pode estar alheio ao que acontece com o seu povo, precisa saber conhecer bem o que acontece à sua volta. Perceba, não são as pessoas que tomam a iniciativa de narrar a Neemias a situação de Jerusalém, é ele quem pergunta. Outro princípio é o da sensibilidade: o líder deve se importar com seu povo e os considera seus semelhantes, jamais inferiores, por isso sente a dor dos outros, chora com os que choram e se alegra com os que se alegram.
Contudo, a sensibilidade do bom líder não o impede de ter uma correta leitura da realidade, esse é um outro princípio, o da realidade. O líder não distorce a verdade, não a esconde, não a diminui, nem a aumenta, vê os fatos como de eles são. Além disso, temos o princípio do inconformismo. Um bom líder não consegue permanecer indiferente às injustiças que ocorrem à sua volta. Ele age. Tem um desejo de modificar as realidades, é proativo, toma a iniciativa, não espera que as coisas “caiam do céu”. Líder não “reage”, ele age. Veja, meu irmão, Neemias poderia estar conformado com a situação, porquanto sua vida, apesar de tudo, era muito boa, mas ele decidiu não se acomodar. Ele procura o rei e usa sua posição de liderança social para interceder pelo povo.
Inobstante, nesse momento, surge na história um princípio mais ligado aos líderes cristãos, o princípio da oração e consagração. Afinal, o bom líder cristão deve viver na dependência de Deus, na direção do Espírito Santo e sabe a importância da oração na solução dos problemas da vida. É por meio dos períodos de oração e consagração que o líder clamará por misericórdia e perdão, confessará os seus próprios pecados e os do povo e intercederá pelos seus, confiando que Deus é fiel para cumprir suas promessas. Veja, Neemias ora ao Senhor, ele busca a face de Deus, ele confessa seus pecados e do povo e pede graça a Deus, antes de entrar na presença do rei.
Ainda, vemos que o bom líder deve ser humilde, se humilha na presença de Deus e não tem vergonha de pedir pelo bem do seu povo, mesmo que coloque em risco sua própria posição, sua influência, ele estará disposto a renunciar tudo, pelo bem do seu povo, mas não é inconsequente, impulsivo ou irresponsável. O bom líder sabe que agir exige planejamento e que os seus planos devem ser traçados sob orientação de Deus. Quando olhamos, nesse aspecto, para Neemias, vemos que o rei percebe que o seu rosto estava triste. Isso significa que o rei conhecia Neemias muito bem, porém, quando questionado pelo rei, ele “teve muito medo”. Por quê? Ora, não se engane amigo leitor, Neemias estava prestes a “importunar” o rei com problemas de seu povo. O rei não tinha nada a ver com o sofrimento do povo judeu. Importuná-lo era arriscado, se o rei se aborrecesse com o pedido, não apenas Neemias poderia não apenas perder o seu cargo, mas perder a sua vida.
Porém, Neemias confiou no Senhor, Ele havia orado: “Faz com que teu servo encontre compaixão nos olhos do homem a quem levarei meu pleito (Ne. 2:10b – KJA)”. A fé e a ousadia o tomaram e ele teve a coragem necessária de interceder junto ao rei. Fé e ação caminham lado a lado, porém a fé muitas vezes exige planejamento. Talvez você não tenha percebido, mas, quando o rei perguntou a Neemias quanto tempo demoraria a sua “missão”, ele tinha todas as respostas na ponta da língua. Ele sabia o tempo, tudo o que precisaria, todos os recursos necessários, tudo calculado, tudo estava devidamente planejado, nada foi de improviso (Ne. 2:5-9).
Prosseguindo, o bom líder sabe que para mudar as realidades à nossa volta há desafios, exige-se resiliência, por isso deve encorajar os outros, manter o foco, não se abalar com críticas. Veja que Neemias, durante a reconstrução, distribui tarefas, confia na sua equipe, mas também executa e “põe a mão da massa”, dando o exemplo, suas palavras e ações são coerentes, olhando para além das circunstâncias, entretanto agindo com prudência, garantindo a continuidade da obra e a segurança de todos, sem menosprezar os adversários, mas sem se deixar abalar ou paralisar por eles, mesmo que tivessem que trabalhar com as ferramentas em uma das mãos e a espada na outra (Ne. 4:11-23).
Portanto, amigo leitor, somente aplicando os princípios da Palavra do Senhor, o bom líder se tornará exitoso em tudo aquilo que Deus o levantou para fazer. Lembre-se que Neemias concluiu a restauração dos muros de Jerusalém e em tempo recorde (Ne. 6.15) e, ao final, não se esqueceu de reunir todo o povo em gratidão e adoração ao Senhor (Ne. 8:1-18), pois, acima de tudo, o bom líder sabe muito bem que sem Deus nada pode fazer (Jo. 15:5).
Que Deus levante líderes espirituais e sociais na nossa nação nesses dias, assim como levantou Neemias, José, Daniel, Ester e tantos outros, pessoas que façam diferença, que amem o Senhor acima de tudo, dependam dEle e verdadeiramente amem o próximo como a si mesmos.
Que a graça de Deus se derrame sobre o Seu povo! Maranata!
Fabiano Oliveira.
Amém!🙏🏼
Amém, Glória a Deus, Maranata.